Em menos de 24 horas, um policial militar ameaçou um colega de farda, apontando a arma contra seu rosto, após discussão e briga por uma troca no horário do almoço, e um policial civil é suspeito de matar o próprio companheiro de corporação depois de terem discutido ao se envolverem em um acidente de trânsito. Para pesquisadores renomados da segurança pública brasileira, as duas ações mostram que existe uma pressão psicológica forte sobre os policiais de São Paulo. E que, isto posto, deve ser feito um trabalho institucional de investimento na saúde psicológica dos policiais paulistas.
Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirmou que os episódios mostram “que há uma quadro de pressão tão intenso que, ao menor gatilho de ameaça ou perda de controle da situação, os policiais estão dando sinais de que é mais do que urgente investir na saúde do policial brasileiro”. O especialista em segurança pública citou que o SUSP (Sistema Único de Segurança Pública), aprovado em 2018, já criou um programa nacional de valorização profissional. “Mas, até agora, governos não o colocaram em prática e vão jogando com a barriga a vida dos policiais e da população como um todo”, disse.
O professor Rafael Alcadipani, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), confirmou que “o policial que está sacando uma arma contra o seu superior hierárquico mostra que está com uma questão de saúde mental muito séria que precisa ser cuidada”. Para ele, “a pergunta que fica é quantos outros policiais não estão com essa condição de saúde mental prejudicada?”. O professor citou, como exemplo de acúmulo de pressão, a necessidade de muitos policiais paulistas fazerem bico de segurança privada para complementar a renda. “A polícia de São Paulo enfrenta graves problemas de salário. A formação dos comandantes hoje no Brasil é muito ideológica, muito pouco científica, é uma visão muito fechada.
Tiro à queima-roupa após acidente
De acordo com a Polícia Civil, os policiais civis Renato Bianchi e Ronaldo Cordeiro seguiam em viatura descaracterizada desde a cidade de Presidente Prudente até a capital. No km 305 da rodovia João Baptista Cabral Rennó, em Santa Cruz do Rio Pardo, no interior paulista, porém, o carro deles bateu em uma carreta.