Valores nas alturas e subindo, demissão do presidente da Petrobras, protesto e fechamento de BR, discussão política e promessa de medidas para resolver o problema. E o problema é o preço dos combustíveis. Para se ter ideia, o preço médio da gasolina comum no Estado foi de R$ 4,73 em 25 de janeiro para R$ 5,53 nesta quarta (24), segundo dados do Monitor de Preços de Combustíveis da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz). Um aumento de 16,9% em um mês. E os o preço continua subindo.
A Petrobras anunciou um aumento de 10,2% nas refinarias no último dia 18. No Estado, cada município tem um preço diferente, em função da distância de transporte e quantidade de combustível que compra. Em Linhares, por exemplo, o preço médio da gasolina está em R$ 5,62. Em Cachoeiro, fica em R$ 5,59. Já em Colatina, o preço bate em R$ 5,53, o mesmo valor cobrado, em média, em Domingos Martins. Em Vitória, o preço médio é de R$ 5,17; em Vila Velha fica por R$ 5,03; em Cariacica por R$ 5,05; e na Serra por R$ 5,11.
Mas, o que provoca esse aumento? Para entender, primeiro é preciso saber como é composto o preço dos combustíveis. No caso da gasolina, segundo dados oficiais do Ministério da Economia, o preço no Sudeste com referência a agosto do ano passado é composto da seguinte forma:
Composição do preço da gasolina (Fonte: Ministério da Economia)
32% vem da gasolina
12,2% do etanol
16,3% de tributos federais
27,9% de tributos estaduais
1,1% de margem de distribuição
10,5% de margem de revenda
Segundo o professor de Microeconomia da Fucape, Felipe Storch Damasceno, o preço final da gasolina, e dos combustíveis de uma forma geral, é influenciado por muito mais que percentuais de impostos ou margem de lucro de distribuidoras e postos.
“A gente tem um conceito em economia que é a elasticidade. É a sensibilidade da demanda em relação a mudança de preços. Há alguns produtos que o consumidor responde muito e outros pouco. Muito são os produtos que têm muita importância e poucos substitutos. É o caso da gasolina e do diesel. Quando a Petrobras aumenta o preço, o posto pode repassar quase inteiro o aumento ou até mais porque sabe que a gente precisa abastecer. É uma questão da característica do produto”, disse.
O professor também chamou a atenção para a elevação dos preços do petróleo no mercado internacional e para a escalada do dólar no País. “Em qualquer empresa exportadora ou qualquer grande empresa, como é o caso da Petrobras, se os preços sobem no mercado internacional, vale a pena exportar mais. Então, quem compra aqui dentro do País precisa pagar caro também. Se a Petrobras, mesmo que utilize o petróleo que produz aqui, for vender mais barato, é ruim para os acionistas. A empresa escolhe ser menos lucrativa. Se não for fazer a paridade com o preço do petróleo lá fora, a Petrobras estaria comprando mais caro e vendendo mais barato. Isso já aconteceu lá atrás, no governo Dilma, e custou R$ 100 bilhões para a Petrobras. Não tem mais espaço para fazer isso porque os investidores deixam de investir na empresa, no País”, explicou.
Felipe Storch Damasceno também disse que a redução de impostos seria uma solução apenas a curto prazo e que teria consequências potencialmente desastrosas para a economia do País no futuro.
“Reduzir o imposto agora não é sustentável no longo prazo porque levanta desconfiança dos investidores. Quando a empresa decide fazer isso, praticar política econômica e não ser petroleira, está assumindo que vai deixar de lado a lucratividade. Quando gera essa desconfiança, o investidor duvida se não vai fazer isso de novo e se questiona se terá segurança para colocar o dinheiro na empresa. E não falamos apenas dos grandes investidores, mas de gente comum, pequenos investidores, fundos de pensão”.
A solução, para o professor, seria estruturar a economia como um todo. Mas, nada que poderia ser feito no curto prazo. “A solução é organizar a economia do Brasil e não adianta procurar soluções fáceis para problemas complexos. Criar competição, melhorar o ambiente tributário, atrair investidores, gerar crescimento econômico com empresas investindo. Ter ganho de produtividade, mais investimento em máquinas, equipamentos. Tudo isso atrai investidores, reduz custos, provoca a entrada de dólares. Assim a cotação e os preços de produtos caem. A solução imediata, na verdade, é parar de fazer bagunça e aliviar um pouco a Petrobras”, concluiu o professor.
Repercussão política
Por causa desse aumento dos combustíveis, uma discussão política tomou conta não só do Estado como também do País. Horas após a Petrobras ter anunciado um novo aumento de 10,2% no preço da gasolina e 15,2% no preço do diesel nas refinarias, no último dia 18, o presidente Jair Bolsonaro disse que iria zerar os impostos federais que incidem sobre o diesel e o gás de cozinha a partir de março.
Na segunda-feira (22), Bolsonaro disse que é possível uma redução no preço do combustível e citou, por exemplo, a bitributação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é alvo do governo federal a partir de um projeto de lei enviado ao Congresso há duas semanas.