A menina Anna Luiza, hoje com 4 anos e 4 meses de idade, ainda tem sequelas do acidente ocorrido na Praia do Morro, em Guarapari, no dia 19 de outubro de 2019. A criança passeava com a família, que veio de Minas Gerais para ver o mar, quando foi atingida por um bloco de concreto que caiu de um edifício. Hoje, apesar de se mostrar alegre, a pequena divide o tempo das brincadeiras entre sessões de fisioterapia e consultas médicas.
De acordo com a avó da criança, dona Geni Rodrigues de Abreu, em virtude do ocorrido cerca de dois anos atrás, Anna Luiza desaprendeu conteúdos escolares que antes sabia de cor. “Quando houve o acidente ela já sabia contar até 10, mesmo em inglês, e conhecia as cores. Depois do acidente ela esqueceu”, afirmou.
Segundo a mãe da menina, Sheila Portela, os movimentos da criança também ficaram prejudicados. “Ela não mexe com a mão esquerda e um lado do rosto também não mexe. A mão não tem habilidade, não fecha, não abre, fica dura. Ela anda fazendo movimento rotatório e o cérebro dela é aberto ainda”, disse.
Além das sequelas, o tratamento que Anna Luiza recebe envolve vários profissionais e gera um gasto que a família mal tem condição de arcar, sendo que, por vezes, precisam fazer vaquinhas, organizar almoços solidários e até rifas. Sheila contou que estima os gastos em R$ 3 mil, sem incluir natação e neurologista.
Ver a filha desse jeito fez a mãe perder o emprego e entrar em depressão. “Esqueci de mim, de cabelo, unha. Sou muito vaidosa, mas tive que esquecer que existia para que ela pudesse sobreviver”, contou à reportagem da TV Gazeta. Hoje a família da menina cobra que os responsáveis pelo prédio paguem os gastos com a criança.
Para Flávio Porto, advogado da família, no início o condomínio ajudava com os custos. “O condomínio, no primeiro momento, quando houve a fatalidade, arcou com a hospedagem da família, que ficou por cerca de um mês no Espírito Santo. Após o retorno para o interior de Minas, o condomínio mandava, por alguns meses, uma quantia, que também não era o suficiente para arcar com tudo. Mas infelizmente o condomínio parou de dar qualquer auxílio”, pontuou.
Porto apontou ainda uma série de erros que entende ter havido desde a fase de inquérito policial. Segundo ele, além de o condomínio não ter sido responsabilizado criminalmente como deveria, o caso está sendo tratado como sendo de lesão corporal leve. “Desde o inquérito até o movimento de hoje no processo que tramita em Guarapari houve algumas falhas. Por exemplo, não foi juntado o prontuário médico aos documentos, de modo que não se pode aferir a gravidade da situação, correspondente à lesão grave”, acrescentou.
Depois do acidente, o prédio passou por reforma e hoje está com proteções. Acionada pela reportagem da TV Gazeta, a Polícia Civil informou que a perícia e a inspeção do Corpo de Bombeiros não constataram negligência do condomínio ou do proprietário, mas apenas um desgaste que estava escondido na estrutura.
O Ministério Público, também acionado, explicou que, como não houve intenção do crime, a pena máxima aos responsáveis não passa de 2 anos. O MP informou ainda que, neste caso, mesmo tendo ocorrido uma lesão grave, não há previsão legal para o agravamento da pena. O advogado da família discorda e aguarda a resposta da Justiça.
Para Sheila Portela, o que fica é o desejo por justiça. “Eu só quero Justiça, que as pessoas se coloquem no meu lugar de mãe e vejam minha dor. Vejo as crianças correndo e a minha não pode. Eu tenho que segurá-la, porque ela pode cair e bater a cabeça ou até morrer”, desabafou.