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Notícias

Moradores de rua não apresentam sintomas para Covid-19 e intrigam profissionais da saúde

O novo coronavírus avança pela capital, assim como por outras partes do Brasil, e já infectou mais de duas mil pessoas apenas em BH. No entanto, um “fenômeno” tem surpreendido profissionais de saúde que atendem pessoas que vivem em situação de rua na cidade. Eles relatam desconhecer casos de homens e mulheres nestas condições com sintomas de Covid-19.

Ao certo, não há uma explicação científica para a falta de registros de pessoas em situação de rua infectadas, ou mesmo com sinais da doença. Nem mesmo a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) tem números referentes a tal população diante da pandemia. “A invisibilidade chega até nisso”, alerta a irmã Maria Cristina Bove, da Pastoral do Povo de Rua.

O BHAZ andou por Belo Horizonte e conversou com profissionais do Consultório de Rua, projeto da PBH em que os agentes abordam, diariamente, pessoas que não tem onde morar para realizar atendimentos.

“Estamos encontrando muitos moradores sem os sintomas para o novo coronavírus. É um fenômeno que a gente tenta entender, pois por viverem nas ruas, eles estão mais expostos. Logo, pensamos que estariam mais infectados”, diz a pessoa prefere não ter o nome revelado.

O Consultório de Rua integra os serviços de atendimento a população em situação de rua e outras vulnerabilidades sociais feito pela PBH. Caso a pessoa apresente sintomas para o novo coronavírus, ela é levada para a UBS (Unidade Básica de Saúde) ou à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) mais próxima.

Os atendimentos começaram na primeira semana de abril e, até a última segunda-feira (1º), 102 pessoas foram acolhidas no Sesc Venda Nova. Pessoas em situação de rua, que necessitam do isolamento social domiciliar, são encaminhados para o local, que recebeu adaptações para abrigá-las.

Faltam dados

Apesar da PBH divulgar o número de pessoas acolhidas para o isolamento, o Executivo municipal não divulgou o número de pessoas em situação de rua infectados pelo novo coronavírus. A alegação é de que não há recorte no levantamento com a distinção de tais pessoas.

“As confirmações de casos de coronavírus são feitas por meio dos Boletins Epidemiológicos da Secretaria Municipal de Saúde. Não há um recorte específico sobre pessoas em situação de rua nesse sentido”, informou.

Teorias

Para buscar entender o “fenômeno”, o BHAZ conversou com o infectologista Leandro Curi. O especialista diz que traçar uma análise sem dados fidedignos é complicado e, por isso, é possível, somente, “estipular teorias”.

“A primeira delas é o ambiente aberto em que elas estão expostas. Sabemos que, infelizmente, as pessoas que vivem nas ruas não estão confinadas, em locais fechados. Isso pode ajudar, pois estão em ambientes de constante ventilação”, diz.

Curi tem experiência em atendimento com pessoas nas ruas e, segundo ele, muitos acabam não dando importância para os sintomas que apresentam – o que pode contribuir para a falta de diagnósticos.

“Muitos pensam que a tosse é decorrência dos entorpecentes usados e não associam com o Covid-19, por exemplo. Eles também têm medo de falar algo e de serem levados para abrigos, mesmo sem desejarem”, diz.

Testagem em massa

O real cenário de contaminação de pessoas em situação de rua poderia ser traçado caso a PBH realizasse testagem em massa nesta parcela da população. É o que defende o infectologista ouvido pela reportagem.

“Se isso acontecesse teríamos acesso a dados mais fidedignos. Os que temos são imprecisos para confirmar algo, já que temos pacientes assintomáticos. Faltam testes”, sinaliza.

Curi também destaca que a população de rua não conseguem manter a higienização regularmente, o que acaba contribuindo para a contaminação.

‘Invisibilidade’

O fato da PBH não ter um recorte da população em situação de rua contaminada reafirma a invisibilidade destas pessoas, conforme diz a irmã Maria Cristina Bove. “A invisibilidade chega até nisto. Nos bairros você sabe quantos infectados têm, mas as pessoas que vivem nas ruas, não. É preocupante”.

A religiosa cobra mais atenção do poder público para estas pessoas e desabafa. “Ninguém dá voz para esta população. Ninguém está na rua por que quer. Ninguém escolhe morar na rua por opção. É uma consequência. O resultado de um processo de desigualdade que condena as pessoas”, conclui.

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