Médico que interrompeu gravidez de menina de 10 anos fala sobre protestos: “Nunca passei por isso”
O médico responsável pelo procedimento de interrupção da gravidez de uma menina de 10 anos estuprada pelo tio disse que viveu um momento de tristeza ao ver pessoas na porta do CISAM, em Pernambuco, tentando impedir a realização do procedimento.
Uma autorização judicial do estado do Espírito Santo ratificou a interrupção da gestação da criança que acabou engravidando após ser estuprada pelo tio. A interrupção da gravidez aconteceu no último domingo e contou com manifestações de grupos religiosos pró-vida.
“Foi de tristeza, pessoas que defendem a vida chamando a criança de assassina, querendo fazer justiça dessa forma, logo em uma maternidade que acolhe mulheres em risco, fazendo barulho em um hospital com 104 mulheres internadas. Nunca passei por nada parecido”, frisou o médico.
Segundo Olímpio Barbosa, são realizados por volta de 50 procedimentos ao ano no CISAM-UPE, em Pernambuco, relacionados ao estupro, e disse ser comum meninas de 11 a 12 anos procurarem assistência médica para uma gravidez vinda de uma violência sexual.
“Se nós não fizéssemos nada, o Estado brasileiro estaria conivente com a dor e a violência. O mais importante é que ela não queria, foi torturada, obrigar uma criança a ter uma gravidez forçada é um absurdo”, disse.
O médico gestor do CISAM afirmou ainda que o caso da menina de 10 anos é raro, por não ser comum uma criança desta idade ovular e possibilitar uma gravidez, e disse que, se a gestação não fosse interrompida, provavelmente ela teria complicações por não ter um corpo desenvolvido.
Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM-UPE) é referência estadual nesse tipo de procedimento e de acolhimento às vítimas, e para Olímpio há uma “hipocrisia” no assunto de interromper gestações vindas de estupros.
“A classe alta procura o aborto com maior frequência do que a classe desfavorecida. O Brasil é o país da hipocrisia. A defesa da vida é uma uma falácia. Se consideram que o embrião tem vida, deveriam estar nas portas das clínicas de reprodução humana, que descartam milhares de embriões”, pontuou.
Informações: Band News