Morreu por volta das 13 horas desta quarta-feira (12), em Cachoeiro de Itapemirim, um dos maiores magos capixabas da fotografia: José Carlos de Oliveira, 62 anos, nascido em Alegre, na região do Caparaó. Professor em sua arte, José Carlos morava em Cachoeiro há alguns anos e estava há 13 dias internado no hospital da Unimed, na cidade sulina, tentando se recuperar da Covid.
Nascido em 30 de setembro de 1958, José Carlos de Oliveira era conhecido em sua cidade como como “Zezé do Mosquito”, em função do apelido do pai, que era dono de oficina mecânica e loja de auto-peças na cidade.
José Carlos era remanescente de uma geração que aprendeu fazendo, e fez como poucos a transição da fotografia analógica para a digital, tornando-se um dos profissionais brasileiros mais premiados internacionalmente, conforme registrou a coluna Leonel Ximenes, do portal A Gazeta.
Seu irmão mais novo, Marco Aurélio de Oliveira, oficial músico da Polícia Militar do Espírito Santo, que no ano passado lançou um trabalho de resgate musical de Alegre, disse que a morte de José Carlos surpreendeu à família, apesar de seu estado ter se agravado nos últimos dias.
“Antes dele, eu peguei Covid e cheguei a ficar internado por quatro dias. Mas me recuperei. Logo, ele apareceu também com a doença e, em princípio, estava até em melhores condições que eu, mas nos últimos dias o quadro piorou. Na hora do almoço nesta quarta-feira, os médicos chamaram a esposa dele ao hospital para dizerem que ele tinha piorado, mas ainda havia esperanças. Ela saiu do hospital e ele teve uma parada cardíaca”, disse Marquinho.
Um dos trabalhos mais recentes de José Carlos de Oliveira foi a exposição “Acrobáticos – os movimentos mágicos do colibri”, realizada em Cachoeiro de Itapemirim, onde ele passou a morar nos últimos anos. Os primeiros passos na fotografia foram ainda nos tempos do preto e branco, acompanhando em sua cidade natal o fotógrafo Paulo Guenim Simão, seu primeiro mestre.
“Lembro bem, éramos contemporâneos, estudamos na mesma escola, ele se casou com uma moça que era minha vizinha no Guararema (bairro de Alegre). Zezé era piolho de laboratório de revelação do Paulo Guenim Simão. Eu também andava por lá, tomando algumas lições de fotografia para ilustrar minhas reportagens, que começaram bem cedo. Meu negócio era escrever, o do Zezé era fotografar. E ele voou como poucos”, testemunha o jornalista José Caldas da Costa, alegrense como Zezé.
José Carlos de Oliveira era o mais velho de seis irmãos. Um deles, Júlio César de Oliveira, foi vereador na cidade. O mais novo é Marco Aurélio, o maestro do projeto da banda de música de adolescentes da Polícia Militar. Os outros são Maria Elisa, Sérgio e Jorcy, que levou o nome do pai.
O fotógrafo estava em seu terceiro relacionamento, e deixa a pequena Maria Luíza, de três anos, de seu casamento com a cachoeirense Adriana. Mas tem outros três filhos: Caroline, do primeiro relacionamento com Ângela Almança, além de Daniel e Ricardo, que faz Mestrado em Portugal, estes do casamento com a alegrense Madalena Capucho.
Em entrevista à jornalista Beatriz Caliman, de A Gazeta, em 2015, ele revelou um pouco de sua estratégia para fotografar os colibris: “Desenvolvi ao longo do tempo a habilidade da aproximação sem ser invasivo. Sei quando estão por perto, já me posiciono e faço o foco, manual. De um registro, não acontecem mais que três fotos”,
José Carlos passou dois anos nos Estados Unidos no início dos anos 80. Lá, aperfeiçoou sua técnica na arte fotográfica. Em viagens pela Itália, fez registros antológicos de pessoas por onde passou. Apesar de ter vivido um tempo fora do País, o Sul do Estado era sua casa.
Além de Alegre, sua cidade natal, José Carlos buscava seus personagens em outros municípios, como Ibitirama, Vargem Alta, Venda Nova do Imigrante, Anchieta, Domingos Martins, Muniz Freire e Alfredo Chaves. Além de colibris e pessoas, José Carlos amava fotografar tempestades de raios. Uma de suas fotos, registrando uma tempestade em Alegre, foi uma de suas primeiras premiações internacionais.
A família decidiu que o corpo de José Carlos de Oliviera será sepultado nesta quinta-feira (13), às 9 horas, no Cemitério Municipal de Alegre, onde ele nasceu e viveu por quase cinco décadas, e onde ainda mora sua mãe e alguns de seus irmãos. Devido à pandemia e à Covid ter sido a causa da morte, não haverá velório.
A morte do fotógrafo repercutiu imediatamente nas redes sociais, com homenagens de cidadãos anônimos a líderes políticos regionais, como o prefeito Vitor Coelho, de Cachoeiro.