Um vídeo que escancara o atual cenário da fome no Brasil viralizou nas redes sociais nos últimos dias. As imagens mostram mulheres procurando comida em um caminhão de lixo no bairro Cocó, zona nobre de Fortaleza.
Uma dessas mulheres concedeu entrevista à TV Cidade Fortaleza. Identificada apenas como Jocasta, ela contou que a busca no lixo tornou-se a única saída para garantir a alimentação da família.
“Estou passando necessidades, tenho três filhas e estou sem nada. Se eu não for para lá, a gente não come. Hoje eu já fui, já peguei essas tangerinas, de manhã, umas nove e pouco. Doze horas, eu peguei mais duas goiabas, fiz uma vitamina e dei para elas”, relatou.
A mulher vive em uma residência de um quarto e um banheiro próxima à região onde o vídeo foi gravado. Ela contou que começou a procurar comida no lixo ainda jovem, aos 12 anos. “Hoje eu continuo nisso. Sou mãe, tenho que ir.”
Jocasta é mais uma vítima da crise econômica no país e perdeu o emprego logo no início da pandemia. Desde então, batalha para pagar o aluguel de R$ 250 e garantir a alimentação para as filhas, alternando entre os caminhões de lixo e os pedidos em semáforos.
“É difícil. Não é para todas as pessoas não. Eu quero criar meus filhos… Por isso que eu vou. Eu não quero fazer nada de errado. O que eu mais quero é dar um futuro melhor para elas, um futuro que eu não tive”, comentou, emocionada.
A própria mulher explicou que precisa sair cedo de casa para tentar encontrar alimentos nos caminhões, e nem sempre consegue algo que dê para comer.
Eu divido. Tem um lado que está podre, eu parto e o que está bom eu dou para elas. A gente lava bem lavado e dá para as crianças comerem”, diz. “Eu deixo de comer e dou para elas.”
41% dos brasileiros estão em situação de insegurança alimentar
Certeza da comida na mesa se tornou um luxo que apenas 59% da população brasileira tem acesso. Os outros 41% convivem com a fome ou estão em algum grau de insegurança alimentar, conforme números da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).
Das 84,9 milhões de pessoas nesta parcela, 27% vivem com insegurança alimentar leve, quando há incerteza em relação ao alimentos no futuro, além de perda na qualidade da alimentação. Outros 13,9% vivem em insegurança moderada ou grave, quando não existe qualidade ou quantidade adequadas de comida. São nesses estágios que a fome aparece.