Crianças sem máscaras: o que dizem especialistas, educadores e pais no ES
O debate sobre o uso de máscaras por crianças no Brasil vem ganhando destaque ao longo das últimas semanas. No Espírito Santo, a secretaria de Estado da Saúde se manifestou contrária às medidas adotadas recentemente em outras regiões do país.
Na última quarta-feira (02), Santa Catarina, no Sul do Brasil, flexibilizou o uso da barreira de proteção contra a covid-19 para a faixa etária de 6 a 12 anos. Portanto deixou de ser obrigatório. O uso ficará a critério dos pais e responsáveis.PUBLICIDADE
A Prefeitura do Rio de Janeiro também adotou a mudança e decidiu nesta segunda-feira (7) pela retirada da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados da cidade. O governo de São Paulo também anunciou que estuda a suspensão das máscaras. A decisão está prevista para as próximas semanas.
A reportagem do Folha Vitória ouviu a secretaria de Estado da Saúde, nomes da área médica, além de representantes do cotidiano educacional no Espírito Santo.
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Sobre a possibilidade de flexibilização do uso de máscaras por crianças nas escolas, a Sesa afirmou que considera o debate prematuro.
Segundo o secretário de Saúde, Nésio Fernandes, “as máscaras devem persistir por um pouco mais de tempo, de modo que a gente consiga ter um momento adequado. Insistimos que ainda vivemos em um período de doenças respiratórias que impactam o sistema de saúde”.
O que dizem os especialistas: afinal, manter ou não o uso de máscaras em crianças?
Para a Doutora em Epidemiologia, Ethel Maciel, o momento ainda pede cautela e observação. Segundo a especialista, o avanço da vacinação para crianças de 5 a 11 anos ainda é bastante lento e por esse motivo, é importante que elas permaneçam usando as máscaras.
“Principalmente em um ambiente escolar, que é um ambiente onde tem muita interação. A gente entra em contato com muitas crianças, com adultos. Nesse momento os adultos já estão vacinados, mas as crianças, a vacinação caminha muito lenta, disse.”
Após a 4ª onda de contaminação provocada pela circulação da variante Ômicron em todo o país, Ethel lembra que já se começa a observar uma melhora nos índices da pandemia, mas destaca que a média móvel de casos é óbitos ainda preocupa.
“Ainda estamos com uma média móvel de mais de 400 óbitos, mais de 40 mil casos por dia, na média móvel, muitas pessoas ainda estão doentes, transmitindo a doença. A gente precisa seguir avançando na vacinação infantil. Observando esses indicadores e que eles diminuam mais de forma consistente”.
Um outro ponto, avaliado pela epidemiologista é o do feriado prolongado do carnaval, que apesar de adiado em vários lugares registrou grandes concentrações e reuniões de pessoas.
“A gente precisa também ter uma preocupação de ver o que vai acontecer com esses feriados, falando de carnaval, que não teve, mas teve. Uma situação estranha. É importante observar daqui uma semana, duas semanas, pra gente entender se vamos ter aumento de internação e de óbitos”, destacou.
Ethel avaliou a medida do Rio de Janeiro como “preocupante e precipitada”, principalmente o de retirar as máscaras quando ainda se tem indicadores altos de óbitos e de casos.
Para a infectologista e pediatra, Euzanete Cozer, o momento agora agora é o de cobrar a vacinação. Segundo a médica, falar em suspender o uso de máscaras só será possível quando houver uma cobertura vacinal acima de 90% do público alvo.
“É importante lembrar que no início do mês de fevereiro, ainda nas primeiras semanas do retorno às aulas e do fim do recesso escolar, vários alunos apresentaram sintomas gripais e até mesmo foram afastados por causa da covid-19”.
Euzanete lembra ainda que é necessário aguardar um período maior pós feriado para saber realmente se vai haver ou não um novo aumento no registro de casos de covid-19. “É preciso observar e levar em conta todo o cenário atual. Muitas crianças não vacinaram no mês passado porque positivaram para covid ou tiveram contato com familiares que foram contaminados pelo coronavírus”.
Com relação à vacina, a pediatra e infectologista é enfática ao dizer que ela é extremamente segura.
“A vacina é segura e o momento é de vacinar. Todos devem se estimular, fazendo uma corrente de cooperação entre pais ,familiares e amigos. Principalmente para derrubar as correntes da faknews que tanto prejudicam o andamento da vacinação, finalizou.”
Segundo a vice-presidente da Sociedade Espiritosantense de Pediatria (Soespe), Filomena de Alencar, o uso de máscaras é necessário, mesmo diante da queda no número de óbitos e casos.
“Principalmente considerando que a cobertura vacinal contra COVID-19 em crianças ainda está abaixo do desejado no estado. Além disso, mesmo havendo oferta de testes pelo estado, há pouca adesão à coleta de material para teste de antígeno ou para RT-PCR para Sars-Cov 2 para crianças”, destacou.
Com relação a flexibilização do uso em ambiente escolar, a infectologista disse que as máscaras, ao serem usadas adequadamente e associadas a correta higienização das mãos, aumentam a segurança como um todo.
Filomena destaca também o fato de que existe a possibilidade das crianças transmitirem o vírus sem a presença de muitos sintomas. “A escola deve ser um local seguro para que a criança possa aprender com um risco mínimo de comprometimento à saúde”, finalizou.
Sinepe espera que, em breve, haja flexibilização no ambiente escolar
Segundo o presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo, Moacir Lellis, as escolas permanecem seguindo todos os protocolos de segurança sanitária preconizados pelas autoridades de saúde. Entre eles, a exigência do uso de máscaras.
Para Moacir, apesar da variante Ômicron, em atual circulação, ter um comportamento menos letal e a vacinação seguir avançando, suspender a obrigatoriedade do uso de máscaras no ambiente escolar depende de um posicionamento da Secretaria de Estado da Saúde.
“Tudo vai depender de um posicionamento da Sesa, mas pela fala do secretário, ainda não é o momento. No meu entender, nós teremos que conviver com essa pandemia como já convivemos com outros tipos de vírus, por exemplo. Já se viu que hoje a Ômicron é mais contagiosa, porém menos letal. Mas só quem poderá determinar isso é a secretaria”, ponderou.
Lellis acredita ser bastante desconfortável para uma criança permanecer usando máscaras e conta que já reparou que elas se mostram incomodadas. Diz ainda que diante da evolução positiva do Mapa de Risco, a vacinação e a permanência dos índices de contaminação baixos nas escolas, é preciso trazer o debate à tona.
“É preciso cautela para entender como será o comportamento da transmissão de agora em diante sim, mas eu torço para que o nosso índice estadual, que tem caído bastante, reduza ainda mais a ponto de permitir que as crianças possam desfrutar do ambiente escolar como antes. O ser-humano precisa de contato. Lógico, com todos os cuidados e segurança necessários.”