Antes das 5 horas da manhã, Adelmira Adão já está de pé se preparando para correr. Ela faz suas orações matinais, calça os tênis, arruma a faixa no cabelo e sai sozinha para percorrer um longo trajeto. Pelo menos três vezes na semana, ela corre entre 7 e 12 quilômetros por dia.
O feito já seria notável para pessoas de qualquer idade, mas Adelmira tem 94 anos.
Atualmente, Adelmira mora com o neto, o vigilante David Adão, de 40 anos, no município de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. A cidade é famosa nacionalmente por ser o local de nascimento do cantor Roberto Carlos.
Ela é carinhosamente chamada nas redes sociais de “vovó corredora”.
E, embora a corrida seja sua marca registrada, demorou alguns anos até que se interessasse pela atividade física.
O companheiro de dona Adelmira morreu quando ela tinha 74 anos. Na época, David ainda não morava junto com a avó e ela se sentia muito sozinha.
Para fazer novas amizades, aos 75 anos ela ingressou em um grupo de atividade física para a terceira idade e, um ano depois, realizou sua primeira corrida.
“Esse primeiro evento reuniu dois grupos: um de caminhada da terceira idade, que minha avó fazia parte, e corredores. Quando tocou o primeiro sinal era para os corredores saírem na frente, mas vovó foi junto. Tinha um pessoal falando ‘não é para você ir agora, não’, mas ela ignorou, correu e completou 10 km de primeira”, conta o neto.
O neto a acompanha apenas nas corridas, para garantir que a avó não fique desidratada ou caso ela precise de algum auxílio no percurso. Nos treinos durante a semana, ela prefere ir sozinha.
“Vou eu e Deus. Não gosto de falação no meu ouvido, não”, brinca Adelmira.
Especialistas ouvidos pelo G1 explicam que atividades de musculação são necessárias para a manutenção e fortalecimento da massa muscular, principalmente em idosos. No caso de atletas, a prática é recomendada para evitar lesões.
Adelmira estima já ter completado mais de 30 corridas entre os estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em 2009, ela conquistou primeiro lugar no Estadual de Atletismo da Terceira Idade, que reuniu idosos a partir dos 60 anos.
A atleta ainda tem muitos sonhos e planos para o futuro. Entre eles está participar da Volta Internacional da Pampulha, principal evento de corrida de Minas Gerais, e completar uma prova em São Paulo, único estado do Sudeste que ainda não visitou.
“Eu gosto de correr. Refresca a minha mente e eu me sinto bem”, afirma Adelmira
Durante o período de pandemia, Adelmira não participou de nenhuma corrida em grupo.
Idosos podem fazer atividades de alta intensidade?
Adelmira Adão com seu troféu após concluir mais uma corrida — Foto: Arquivo pessoal | Reprodução
“A idade não é nenhum impeditivo para realizar atividades físicas”, afirma Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do Hospital das Clínicas de São Paulo.
De acordo com o especialista, a idade de uma pessoa, por si só, não define se ela está apta ou não para a realização de uma prática esportiva. Isso é avaliado com base na condição física de cada indivíduo.
Por isso, embora o caso de Adelmira possa ser inspirador, não é recomendado que outras pessoas comecem a correr sem o preparo físico adequado.
Segundo Alexandre Stivanin, ortopedista membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e do Hospital Samaritano, o ideal é que a pessoa interessada em realizar esse tipo de atividade física comece de modo gradual, com uma caminhada, por exemplo.
“O aumento progressivo proporciona ganho na massa muscular, sem causar lesões, preparando as fibras e dando tempo para que o metabolismo forme os músculos. Esse aumento progressivo é o que te dá condicionamento físico”, explica Stivanin.
Para começar uma atividade de alta intensidade sem riscos, o ortopedista recomenda que sejam feitos exames preventivos para assegurar que não exista sobrecarga no coração ou nas articulações.
Segundo os especialistas, os idosos sedentários devem começar com pequenas atividades de fisioterapia ou exercícios simples, relacionados à sua rotina.
“Muitos idosos não conseguem sair do lugar, do sofá e da cadeira porque não têm músculo e com exercícios de fisioterapia já é possível ter o fortalecimento dos músculos. Não deixa de ser exercício”, afirma o geriatra Paulo Camiz.
Para ele, o melhor investimento em medicina preventiva é a atividade física. “O exercício previne doenças mentais, previne e trata a osteoporose e melhora todo o condicionamento cardiorrespiratório – além de manter a sua independência como indivíduo. Tem coisa melhor que isso?”