Carcaça e miúdo: sem conseguir comprar carne, famílias comem partes que antes eram descartadas
Com o preço dos alimentos disparando sem parar e, ao mesmo tempo, a queda na renda das famílias, o consumo de carne diminuiu. O ano de 2021 teve o menor consumo de carne por pessoa nos últimos 16 anos.
Nessa situação, é comum que famílias coloquem no prato partes do boi e do frango que antes eram jogadas fora, como carcaça e pele.
A aposentada Marlene Silvino, do bairro Nova Canaã, em Cariacica, na Grande Vitória, mora atrás da própria lanchonete, que só abre de vez em quando para vender salgados ou para preparar o almoço para a família.
A refeição, porém, é preparada com uma cartilagem do boi, que fica no joelho do animal. O “catuni” tem sido o prato dos dias para a família.
“Se pudesse [comeria menos cartilagem], mas não tem como. A carne hoje está ouro. No lugar da carne temos que comprar outras coisas, porque está tudo caro. Luz, remédio, luz que está fora de série, água. E o nosso salário não dá. Não tem como”, disse Marlene.
Com dívidas, Marlene e o marido têm que se virar para sustentar o filho de apenas três anos. A proteína rotineira é o ovo. O “catuni” é, na verdade, servido quando ela quer variar a refeição da casa, quando quer aproveitar o pouco da carne bovina presa à cartilagem.
“É bastante ovo. Omelete, moquequinha de ovo, e a gente vai levando. Mas quando dá vontade de comer um ‘catunizinho’, pra variar, encomendamos. Primeiro ele era doado, mas hoje tudo é comprado”, afirmou a aposentada.
unto com outras partes do boi, a cartilagem costumava ser descartada por ser um pedaço da carcaça do animal. No caso do frango, o dorso, pés e também o pescoço são partes que eram desperdiçadas, mas agora tem sido bastante procuradas.
A Tuania Picoli, que é dona de um mercado em Alto Lage, também em Cariacica, diz que tem aparecido pessoas que decidiram trocar a carne bovina pelo frango para economizar. Há pessoas, porém, que vão até lá sem condições para comprar outra opção que não sejam as carcaças dos animais.
“Aumentou [consumo das carcaças] devido à situação que o Brasil ficou com a pandemia, com pessoas desempregadas. Então recorreram bastante para partes mais baratas. São as partes com mais osso”, afirmou a comerciante.