Advogados presos no ES reclamam de baratas, rãs, ratos nas celas e “comida sem gosto”
Os dez advogados presos por suspeita de envolvimento com uma organização criminosa de Vitória, trouxeram em audiência de custódia realizada nesta terça-feira (08), uma série de reclamações sobre as condições do sistema prisional. Queixas sobre insetos e falta de tempero na comida servida estão entre elas.
As reclamações constam da decisão publicada nesta quarta (09) pelo juiz Carlos Henrique Rios do Amaral Filho. Confira alguns trechos:
1. “Diego aponta que foram alocados em uma espécie de corredor, com vista para o gramado, e que o local não possui as condições adequadas”;
2. “Mateus alega ainda que foram encontrados insetos dentro da cela, além de um rato. Aduz ainda que não possui área de convívio e que passaram frio na noite em que foram alocados naquele estabelecimento prisional”;
3. “Davi ressalta que os réus coabitam presos comuns e que o local está em estado de penúria, ou seja, em condição que não é condigna“;
4. “Davi também aponta que, pela manhã, alguns policiais penais abriram a porta do local em que se encontra por cinco vezes, e fecharam, sem falar nada. Alega ainda que uma barata voou em seu rosto, que não possui local para armazenar alimentos, que ficam acondicionados em sua cama, que o banheiro não é fechado e todos compartilham do odor, e que há uma apenas uma separação com os demais detentos por meio de uma porta”;
5. “Bárbara diz que a cela em que se encontra não possui as condições adequadas, sem tampa e descarga para o vaso sanitário; que não consegue dormir por causa dos insetos; que a comida não tem gosto; que a água é do poço e não é filtrada, tendo gosto de barro; que a cela exala há mal cheiro; que as policiais penais fazem há chacota, dizendo que é “fresca”, em razão de restrições alimentares que possui”.
6. “Ester alega que dormiu no chão, junto com baratas e mosquitos; que a cada atendimento que passava, tinha que fazer os procedimentos da cadeia, como o agachamento; que não consegue dormir e que as policiais penais debocham, dizendo para as outras detentas para que estudem, pois serão iguais a elas. Por fim, a acusada alega que necessita de medicação controlada para dormir e que é intolerante à lactose, assim como a corré Bárbara, no entanto, suas medicações não estão sendo fornecidas”.
7. “Thatiane alega que sofre violência psicológica na Unidade Prisional, sendo alvo de chacotas por parte das policiais penais, que logo foram até a galeria para ver as advogadas. Segundo a ré, as policiais penais falam para as demais detentas que devem estudar para ter celas melhores, como a dela. Sobre as condições da Unidade Prisional, a acusada aduz que a privada fica próximo à cama, e que a alimentação é ruim. Ao final, aponta que foi chamada de “presa” por uma policial penal”.
8. “Maila relatou que faz uso de medicação para dor, e que até o momento, a Unidade Prisional lhe repassou somente um Paracetamol 500mg, para ingestão de 8 em 8 horas. Sobre as condições da Unidade Prisional, alega que o local é invadido por rãs e que recebeu um rolo de papel higiênico, para utilização por dez dias”.
O que diz a Sejus
A reportagem do Folha Vitória demandou a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) para saber sobre as condições das celas. Em nota, a pasta respondeu:
“A Secretaria da Justiça (Sejus) informa que mantém protocolos de higiene e conservação em todas as unidades prisionais do Estado, com o objetivo de prevenir a presença de pragas e vetores e promover um ambiente saudável no sistema prisional. A limpeza é realizada diariamente, bem como ações de dedetização em períodos determinados. A Sejus ressalta também que inspeções mensais são realizadas pelo Poder Judiciário nas unidades citadas e que, até o momento, nenhuma não-conformidade foi identificada”.
Caso dos advogados presos: magistrado nega liberdade e segredo de justiça
Os dez advogados presos por suspeita de envolvimento com uma organização criminosa de Vitória foram ouvidos em Audiência de Custódia realizada na 1ª Vara Criminal de Viana nesta terça-feira (08). As respectivas defesas pediram, em especial, a revogação da prisão preventiva dos réus ou, ao menos, a decretação da prisão domiciliar. Os pedidos foram negados a todos os envolvidos.
Além do pedido de liberdade, também foi analisado pelo magistrado Carlos Henrique Rios do Amaral Filho, a possibilidade de que o processo fosse tratado em segredo de justiça, o que também não foi autorizado. Confira trecho da decisão:
“Indefiro o pedido de decretação do segredo de justiça, pelos motivos já expostos na Decisão que recebeu a inicial, para ampla publicidade do feito, inclusive para acompanhamento por parte dos órgãos de classe”.
Entenda: “Pombos do Tráfico”
Dez advogados foram presos na manhã desta sexta-feira (04) durante uma operação deflagrada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
Realizada por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a investigação aponta que 11 advogados atuavam como “pombo-correio” de traficantes, alguns deles ligados ao Primeiro Comando de Vitória (PCV). Um dos suspeitos não foi localizado durante a operação.
O pedido de prisão preventiva foi solicitado pelo MPES e atendido pelo juiz Carlos Henrique Rios do Amaral Filho, da 1º Vara Criminal de Viana, no dia 1º deste mês.