Golpe da fé – De sangue falso a dinheiro amaldiçoado veja como era o esquema do golpe da fé no ES

Golpe da fé – De sangue falso a dinheiro amaldiçoado veja como era o esquema do golpe da fé no ES

De sangue falso a dinheiro amaldiçoado, como funcionava ‘golpe da fé’ no ES 

O trio que aplicou o “golpe da fé” em pelo menos oito cidades do Espírito Santo tinha um roteiro pronto: eles escolhiam bem as vítimas, as envolviam em uma história e se aproveitavam da esperança delas na cura para praticarem o roubo. Utilizando encenações envolvendo imagens de santa, “sangue” falso e falando em maldições, eles conseguiram levar o dinheiro de, no mínimo, 16 pessoas do Estado, só neste ano. A prisão aconteceu no Centro de Aracruz, no dia 16 de junho deste ano. Os suspeitos foram identificados como David Santa Ana Sobrinho, de 58 anos, Adilson Pratas Ferreira, de 55 anos, e Jose Carlos da Silva Barista, de 59 anos. Todos são do Rio de Janeiro, mas, segundo a Polícia Civil, já cometeram o mesmo crime na cidade maravilhosa, no estado capixaba, na Bahia e em Minas Gerais. Trio, que é do Rio de Janeiro, foi preso no último dia 16, no Centro de Aracruz; polícia deu detalhes de como eles conseguiam enganar as pessoas e pegavam o dinheiro

?Como era o golpe?
Inicialmente, o trio vinha para o Espírito Santo. Eles costumavam se hospedar em pousadas na Serra, possivelmente por causa da localização geográfica. De lá, eles partiam em um veículo Fiat Siena prata para a cidade escolhida para aplicar o golpe.
Os golpistas costumavam se posicionar em pontos comerciais ou próximos de agências bancárias. Um deles ficava no carro, enquanto os outros dois iam procurar vítimas. Eles escolhiam pessoas com uma idade um pouco mais avançada e que aparentavam ter alguma enfermidade Delegado Leandro Sperandio
Titular da Delegacia Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Aracruz.

Com a vítima selecionada, o criminoso engatava um assunto como se conhecesse alguém da família dela. A pessoa ia entrando na conversa, acabava passando algumas informações pessoais, como nome de parentes, e assim o papo seguia. No meio do assunto, o golpista dizia que teve uma dor ou doença crônica, mas que tinha encontrado um curandeiro que, por meio de orações, conseguiu curá-lo. A vítima acabava contando sobre a enfermidade que tinha, e o criminoso prometia que aquilo também podia ser resolvido pela fé. “A vítima então era levada, com pretexto de ser levada até a residência do curandeiro, mas no meio do caminho eles já estavam articulados, e o curandeiro aparecia próximo ao veículo”, disse Sperandio.  O tal curandeiro era o terceiro integrante do grupo, que ficava esperando no carro. Quando a vítima chegava, ele dizia que podia fazer a oração ali mesmo, e então eles entravam no veículo.

? No carro: santa e sangue falso
Dentro do Siena, a encenação continuava. No interior do veículo havia até uma imagem de cerca de 20 centímetros de Nossa Senhora da Aparecida.
“Ali ele simulava fazer uma oração e ia além: dizia que o dinheiro, os bens daquela vítima também estavam amaldiçoados e a pessoa iria acabar perdendo todo o dinheiro para aquela maldição. Eles pediam para que a vítima, simbolicamente, entregasse uma célula de dinheiro, de dois ou cinco reais, e pediam para ela cuspir naquela nota”, explicou o delegado.

Neste momento, o curandeiro, com o dedo sujo de tinta vermelha, manchava a nota. Depois, mostrava para a vítima, dizendo que ela havia cuspido sangue.
“E aí então eles passavam amedrontar a vítima dizendo que ela estava possuída, que haviam feito alguma alguma questão religiosa em desfavor dela”, pontuou Sperandio. Como os golpes eram feitos perto de agências bancárias, o falso curandeiro pedia para a vítima sacar todo o dinheiro possível, para que ele fizesse uma oração e para que o patrimônio da pessoa não fosse atingido pela maldição. “Porém, na hora de devolver o envelope, ele devolvia outro, falso, contendo bilhetes de loteria sem preenchimento”, comentou o delegado. Eles ainda orientavam as vítimas a só abrirem o papel no dia seguinte, para a oração fazer mais efeito. Só aí o golpe era descoberto.

? Como a polícia descobriu?
Algumas das pessoas lesadas foram registrando boletim de ocorrência. Em 31 de maio, uma mulher que perdeu R$ 2,1 mil no golpe procurou a delegacia em João Neiva. Os investigadores foram levantando, junto ao setor de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os outros casos semelhantes, chegando a 16 vítimas. No dia 7 de junho, a PRF abordou o veículo em Itapemirim e conseguiu a identidade dos suspeitos. A partir daí, foi pedido o mandado de prisão do trio. Em 16 de junho, eles foram capturados logo após fazer mais uma vítima no Centro de Aracruz. Os três confessaram os crimes. “Um deles chegou a mencionar que havia dois anos que o sustento da família era esse tipo de golpe”, finalizou Sperandio.

? Mais vítimas
O pedido da polícia é que as pessoas que tenham sido vítimas desse trio registrem a ocorrência.
“Nós temos a convicção de que algumas vítimas não procuraram as forças policiais para registrar o boletim de ocorrência, às vezes por medo, às vezes por vergonha, e o nosso objetivo aqui é fazer com que as vítimas que porventura sofreram esse golpe procurem a unidade de Polícia Civil mais próxima da sua residência e confeccionem o boletim de ocorrência, assim esses indivíduos serão responsabilizados na medida necessária do dano que eles causaram.”

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