Motoboy é baleado por polícia, PM diz que ele estava assaltando, família contesta

Motoboy é baleado por polícia, PM diz que ele estava assaltando, família contesta

A família do motoboy preso depois de uma perseguição no bairro Nova Palestina, em Vitória, na noite de terça-feira (1º), contesta a versão da polícia de que ele estaria assaltando mulheres na Rodovia Serafim Derenzi. A esposa afirma que o marido estava fazendo entregas da lanchonete que eles são proprietários.

A Justiça concedeu a soltura do homem nesta quinta (3).

O motoboy Isaque Rezende de Araújo foi preso após ser acusado de estar fazendo assaltos na Rodovia Serafim Derenzi. Os policiais militares o perseguiram e alegaram que o homem estava armado e trocou tiros com a polícia.

Estranhando a demora, Rayna foi procurar informações no Pronto Atendimento de São Pedro e descobriu que o marido tinha sido baleado e transferido para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência (Heue).

“Ele demorou muito para chegar e a gente começou a ficar preocupado. Como as últimas entregas dele eram em São Pedro, eu fui para o PA de São Pedro ver se tinha acontecido algum acidente. Eu soube que ele foi assaltado, porque foi essa informação que me passaram, e que os policiais deram entrada com ele na policlínica, mas que ele foi encaminhado para o São Lucas”, relatou Rayna.

A mulher relatou ainda que não conseguiu contato com o marido quando ele estava internado, conseguindo falar com ele apenas quando deixou o hospital escoltado pela polícia. O motoboy contou a ela que teria abordado as duas mulheres para pedir uma informação e foi perseguido pela polícia.

“Quando ele saiu, eu vi ele todo machucado. Estava com a boca machucada, com a perna e o pé enfaixados, porque ele foi atingido por três tiros. O que ele disse foi que parou para pedir uma informação, as moças acharam que ele ia assaltar e ele ligou a moto e saiu. Logo depois passou uma viatura e começou a ir atrás dele, sem dar ordem de parada, sem ligar a sirene, e começaram a atirar. Foi quando ele parou a moto e começou a apanhar. Os moradores se revoltaram”, contou a esposa.

A prisão gerou uma manifestação de familiares e amigos nas redes sociais, que pediram por justiça.

O advogado de Isaque, Siderson Vitorino, pediu o relaxamento da prisão do motoboy e também fez uma denúncia de crime de falsidade processual, tentativa de homicídio, omissão de socorro, furto e formação de quadrilha contra os militares na Corregedoria da PM. Vitorino quer que os policiais envolvidos sejam afastados preventivamente das ruas.

Segundo o advogado, há inconsistências na versão apresentada pelos policiais.

“O relato que foi entregue para o delegado pela PM é mentiroso. A polícia alega que teve uma troca de tiros e não é verdade porque não existe uma arma do crime, não foi pedido na polícia um exame de pólvora na mão do meu cliente. Se houve um assalto, não estão presentes as vítimas do assalto e nem a coisa furtada. Então não houve um assalto seguido de perseguição da polícia, o que houve foi a polícia atirando para cima de um trabalhador”, explicou o advogado.

A Polícia Militar informou que vai instaurar um procedimento para apurar as circunstâncias da atuação dos militares.

Caso

A versão da Polícia Militar é de que uma equipe passava pela Rodovia Serafim Derenzi quando viu duas mulheres conversando com um motoboy. Ele estava com uma bolsa de entrega por aplicativo nas costas. No momento que a polícia passou pelo grupo, uma das mulheres correu em direção ao carro da PM e pediu socorro. Ela alertou que estava sendo assaltada e que o motociclista estava armado.

Os policiais disseram ainda que tentaram abordar o suspeito, mas que fugiu para dentro do bairro Nova Palestina e trocou tiros com a PM. Dentro do bairro, o motociclista teria perdido o controle e caído com a moto, sendo contido pelos militares.

Câmera registrou perseguição em Vitória  — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Câmera registrou perseguição em Vitória — Foto: Reprodução/TV Gazeta